sáb 05 abr 22H00
TEATRO | 5€
FESTEATRO’08 | PASSE GERAL 12,5€ | PASSE 2 FINS-DE-SEMANA 10€
75 MIN. | M/12

O SENHOR IBRAHIM E AS FLORES DO CORÃO

DE ERIC-EMMANUEL SCHMITT | ENCENAÇÃO DE JOÃO MARIA ANDRÉ
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Autor: Eric-Emmanuel Schmitt
Encenação, Tradução e Adaptação: João Maria André (a partir da versão dramatúrgica para dois actores de Ernesto Caballero)
Assistência de Encenação: Helena Faria
Actores: Rui Damasceno (Sr. Ibrahim) e Hélder Wasterlain (Momô)
Cenografia, adereços de cena e design gráfico: Miguel Dominguez
Figurinos e Adereços: Andrea Inocêncio
Música Original: João Lóio
Desenho de Luz: Nuno Meira
Fotografia: Rita Carmo
Coreografia: Cristina Leandro
Operadores de luz e som: Bruno Santos e Alexandre Mestre
Carpintaria de Cena: Miguel Dominguez e Laurindo Fonseca
Execução de Figurinos: Isabel Pereira
Assistente de Produção: Cláudia do Vale
Produção: Margarida Mendes Silva
Projecto apoiado pelo Ministério da Cultura e Direcção Geral das Artes (Apoio a Projectos Pontuais 2007 - Teatro)
Depois da apresentação em Portugal de A Mordaça (2000), A Visita (2001), Variações Enigmáticas (2004), Hotel de Dois Mundos (2006) e Pequenos Crimes Conjugais (2007), da autoria de Eric-Emmanuel Schmitt, filósofo e escritor, teve a sua estreia no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Julho de 2007, o espectáculo de teatro O Senhor Ibrahim e as flores do Corão, cuja apresentação no Cine-Teatro de Estarreja, integrada no Festeatro’08, está agendada para o próximo dia 5 de Abril, pelas 22h00.

O Senhor Ibrahim e as flores do Corão é uma caixa de segredos. Como a loja do Senhor Ibrahim, o árabe que não é árabe e que vive na Rue Bleue ou como a cabeça e o coração de Momô, o menino judeu que preenche os dias, os sonhos e as insónias daquele velho muçulmano imigrante do Crescente Fértil. Por um lado, Muçulmanos e Judeus, e o cenário parece o do grande teatro da guerra; por outro lado, um velho e uma criança, e o palco é apenas uma caixa misteriosa em que se aprende a ternura, a vida e a morte, o perfume das flores que secaram dentro de um livro que é o Corão, mas que também podia ser a Bíblia ou a Thora.

O Senhor Ibrahim e as flores do Corão é uma caixa de segredos que se transforma num teatro de pequenos gestos. Com palavras, também. Mas é na densidade e na leveza das coisas mais simples que se vai construindo, tecendo e entrelaçando a história de uma amizade através da qual o muçulmano adopta o judeu e o pequeno Moisés que é Momo é um Momo que se transforma também em Mohammed. E, pelo meio, há um porquinho-mealheiro que se parte para ir às putas da “Rua do Paraíso”, há um ursinho de peluche oferecido a uma mulher com quem se aprende a “fazer o amor”, há uma fotografia autografada com dedicatória por Brigitte Bardot na sua passagem pela Rue Bleue, latas de sardinha roubadas à socapa pelo canto do olho do velho merceeiro, uma caixa de paté oferecida à mistura com uma aula de sorrisos, as fotografias das pontes do Sena, uma paleta de tintas para encher de cor o apartamento da Rua Azul e um balcão transformado em carro com o qual se viaja até às terras do Crescente Fértil. Há a dança da vida na vida da dança. Ah, é verdade, e há também o Corão e as duas flores secas entre as suas páginas.
 
Tudo se passa numa loja que é um bazar. Para cá da loja, fica a cidade de Paris, com todo o mundo que aí chega e que daí parte. Para lá da loja, ou melhor, lá no seu fundo, no mais fundo do seu interior, há o calor de uma casa, onde mora o Senhor Ibrahim e que na cumplicidade dos gestos e do olhar, acolhe também o pequeno Momô, e onde ele aprende que há formas de pensar que são doenças e que há pessoas que vivem mais quando aprendem a andar livremente por dentro do mundo e do pensamento.

O Senhor Ibrahim e as flores do Corão não é o grande teatro do mundo, é o teatro dos pequenos gestos. É por dentro de cada um deles que passa a memória, a vida e a alegria. É por dentro de cada um deles que passam as suas histórias e também as histórias de todos os outros gestos. E é também por dentro de cada gesto que passam as palavras. A palavra ternura e a ternura das palavras. Os gestos de paz e a paz de cada gesto. O Senhor Ibrahim e as flores do Corão é, apenas, o teatro mais simples da vida.

João Maria André

A partir do texto de Eric-Emmanuel Schmitt, filósofo e escritor, e com encenação, tradução e adaptação de dramaturgia de João Maria André, O Senhor Ibrahim e as Flores do Corão é um espectáculo com produção de Margarida Mendes Silva e TAGV, em parceria com a Camaleão-Associação Cultural.
Integram o elenco artístico e técnico os actores Helder Wasterlain e Rui Damasceno, Helena Faria (assistência de encenação), Miguel Dominguez (cenografia, adereços de cena e design gráfico), Nuno Meira (desenho de luz), João Lóio (música), Rita Carmo (fotografia), Andrea Inocêncio (figurinos e adereços), Cristina Leandro (coreografia), Alexandre Mestre e Bruno Santos (operadores técnicos) e Cláudia do Vale (assistência de produção).


COMENTÁRIO DO AUTOR SOBRE A OBRA (EXCERTOS)

Quem são Momo e o Senhor Ibrahim?
Dois seres aos quais ninguém presta atenção. Momo, menino solitário, tem um pai que não merece este nome de tal modo o seu estado depressivo o impede de olhar pelo seu filho, de o educar, instruir, transmitir-lhe o desejo de viver, transmitir-lhe os seus princípios. Quanto ao Senhor Ibrahim, só lhe pedem que dê o troco certo. Estes dois seres vão modificar as suas vidas ao confrontarem-se. Este encontro vai enriquecê-los e muito. Especulou-se bastante com o facto de a criança ser judia e o merceeiro muçulmano. Têm razão. Da minha parte, foi absolutamente intencional. Assim, quis ao mesmo tempo testemunhar e provocar.

Testemunhar, porque em muitos lugares da terra – as capitais europeias, os portos, as cidades americanas, as aldeias do Maghreb – há uma coabitação harmoniosa entre pessoas com origens diferentes, religiões diferentes. Em Paris, na Rua Bleue, onde esta história se passa, uma rua onde vivi e que não é de modo algum azul, residia uma grande comunidade de judeus, alguns cristãos e também muçulmanos. Estes citadinos partilhavam não apenas a rua, mas também o quotidiano, a alegria de viver, os problemas, a conversa…

Provocar, para dar uma imagem positiva do Islão no momento em que os terroristas desfiguravam esta fé entregando-se a actos inconcebíveis. Se actualmente o islamismo insulta o Islão, se o islamismo corrompe o planeta, é urgente distinguir o Islão e o islamismo, arrancar dos nossos corações esse medo irracional do Islão e impedir que se confunda uma religião cuja sabedoria milenar guia milhões de homens com o palavreado excessivo e mortífero de certos agitadores.

Pareceu-me importante contar uma história feliz, uma história de fraternidade. O meu maior orgulho foi descobrir que, por exemplo, em Israel, os seguidores da paz, árabes, cristãos ou judeus, se servem do “ O Senhor Ibrahim e as flores do Corão” para tentar espalhar os seus ideais, fazendo-o representar no mesmo Teatro alternadamente, uma noite na versão árabe, outra na versão hebraica…

O sentimento fraterno que une o Senhor Ibrahim e Moisés, porque surge entre seres humanos cujos sentimentos estão próximos de nós, apaga o nosso receio do outro, esse medo que temos daqueles com quem não nos identificamos.

Quando Momo recuperar o velho exemplar do Corão, descobrirá o que havia no Corão do Senhor Ibrahim:flores secas. Mas o Corão do Senhor Ibrahim é tanto o texto como aquilo que o Senhor Ibrahim, ele próprio, aí depositou, a sua vida, a sua maneira de ler, a sua interpretação. A espiritualidade não consiste em repetir mecanicamente as frases mas em apanhar o sentido, em compreender o espírito, as subtilezas, a forma… A verdadeira espiritualidade só tem valor numa mistura de obediência e de liberdade. Eis finalmente a explicação que sempre me pedem sobre este misterioso título “O Senhor Ibrahim e as flores do Corão”. 


DADOS SOBRE O AUTOR


"O Senhor Ibrahim e as flores do Corão" é da autoria de Eric-Emmanuuel Schmitt, filósofo e escritor, um dos autores franceses mais lido e representado em todo o mundo. Os seus livros estão traduzidos em 35 línguas e mais de 40 países representam regularmente as sua peças.

Em 1991, escreveu a sua primeira peça de teatro: “La Nuit de Valonges”, uma releitura do mito de D.Juan, numa produção da Royal Shakespeare Company. Surge depois “A Visita”, em 1993, um êxito que lhe valeu três prémios Moliére no ano de 1994,  para Melhor Autor, Revelação Teatral do Ano e Melhor Espectáculo, peça traduzida e representada em todo o mundo. “Golden Joe” foi criado em 1995, seguindo-se-lhe ”Variações Enigmáticas”, em 1996, a peça mais representada até ao momento, protagonizada por grandes actores de vários países. Em 1997, Schmitt escreve “Le Libertin”, inspirado na vida de Denis Diderot, e o monólogo “Milarepa”, que versa sobre o tema do budismo. No ano de 1998  é levada à cena “FrédericK ou le Boulevard du Crime” e no ano seguinte “Hotel dos Dois Mundos”, no Théâtre Marigny, de Paris, cujo sucesso obtido junto do público obrigou a contratação de três elencos diferentes para manter o espectáculo em cartaz. Outros tantos êxitos se seguem: “O Senhor Ibrahim e as flores do Corão”(1999), adaptado ao cinema pelo realizador François Dupeyron e protagonizado por Omar Sharif que recebeu o César para Melhor Actor, em 2004,“Óscar e a Mamã Rosa”(2003), “Pequenos Crimes Conjugais”(2003) e “L’Evangile selon Pilate”.

Schmitt também é autor de romances e ensaios, de uma ficção autobiográfica e tradutor dos  librettos das óperas “Don Giovanni” e “As Bodas de Fígaro” de Mozart.

Em 2000 recebeu o Grande Prémio de Teatro da Academia Francesa pelo conjunto da sua obra;em 2004 foi-lhe atribuído o Grande Prémio do Público em Leipzig e o Deutscher Bücherpreis pela obra "O Senhor Ibrahim e as flores do Corão" e ainda o prestigiado Prémio Die Quadriga, em Berlim, pela "sua humanidade e sabedoria a partir das quais o seu humor consegue alimentar os homens".

Em Portugal, foram apresentados “A Mordaça”, pelo Teatro Plástico (2000), "A Visita", pelo Novo Grupo/Teatro Aberto (2001), “ Variações Enigmáticas” pela Seiva Trupe (2004), "Hotel dos Dois Mundos"(2006) e "Pequenos Crimes Conjugais"(2007), com encenação de Cucha Carvalheiro e de José Fonseca e Costa, respectivamente, no Teatro Nacional D.Maria II.

“O Senhor Ibrahim e as flores do Corão” foi já apresentado em 18 países, designadamente, na Argentina, Bulgária, Espanha, Israel, Japão e Turquia.

Actores consagrados deram vida aos protagonistas das suas histórias, nomeadamente, os franceses Alain Delon, Jean Paul Belmondo, Francis Huster, Bernard Giradeau ou Charlotte Rampling, o brasileiro Paulo Autran, o alemão Mário Adorf ou o norte-americano, Donald Sutherland.

“O Senhor Ibrahim e as flores do Corão” faz parte do “Ciclo do Invisível”, quatro novelas sobre as grandes religiões: Milarepa, sobre o budismo; Óscar e a Mamã Rosa, sobre o cristianismo, “O Senhor Ibrahim e as flores do Corão”, sobre o sufismo e “L’enfant de Noé”, sobre o judaísmo.