SOLUÇÃO PARA TODOS OS PROBLEMAS DO MUNDO

SÁB 01 NOV 22H00

DANÇA | 3,50€ | 2,50€ C/ DESCONTOS HABITUAIS | ESPECTÁCULO SEGUIDO DE OUTONALIDADES - BAR CTE [ENTRADA LIVRE PARA OS ESPECTADORES DA DANÇA]
APOIO DO PROGRAMA RUMOS ITAÚ CULTURAL DANÇA | 65 MIN. | M/12

COUVE-FLOR - MINICOMUNIDADE ARTÍSTICA MUNDIAL (BRASIL)

[1.ª PARTE: VIDEODANÇA]
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SENSAÇÕES CONTRÁRIAS
FORA DE CAMPO

Concepção: Stéphany Mattanó
Pesquisadores: Cândida Monte, Neto Machado, Stéphany Mattanó
Em cena: Neto Machado e Stéphany Mattanó
Produção: Cândida Monte
Iluminação: Fábia Guimarães
Técnico áudio e vídeo: Leo Fressato
Músicas / Trilha Sonora: The Carpenters - sing a song, Michael Jackson - Heal the world, Blur - Song n. 2, Gili Gabardi - hora arabesca.
Realização: Couve-Flor Minicomunidade Artística Mundial

 

[1.ª PARTE – VIDEODANÇA]

FF >>
Direcção: Karenina de Los Santos, Letícia Nabuco, Marcello Stroppa e Tatiana Gentile
Direcção de Movimento: Karenina de Los Santos e Letícia Nabuco
Criação de Movimento: Karenina de Los Santos, Letícia Nabuco e Marcello Stroppa
Interpretação: Letícia Nabuco e Marcello Stroppa
Direcção de Fotografia: André Lavaquial
Assistente de fotografia: Bruno Diel
Montagem: Letícia Nabuco, Marcello Stroppa e Tatiana Gentile
Finalização: Daniel Canela

SENSAÇÕES CONTRÁRIAS
Produção: Ellen Mello
Roteiro: Amadeu Alban, Jorge Alencar, Matheus Rocha
Elenco: Alici Iannitelli, Andrei Moura, Bruno Serravalle, David Iannitelli, Daniella de Aguiar, Daniel Moura, Fábio Osório Monteiro, Fernando Passos, Leda Muhana, Lia Lordelo, Lucas Valentim, Mab Cardoso, Márcio Nonato, Marcus Desidério, Olga Lamas, Paula Lice, Tiago Ribeiro, Vanessa Mello
Companhias produtoras: Santo Forte Imagem & Conteúdo, Dimenti Produções Culturais


FORA DE CAMPO
Direcção: Valeria Valenzuela e Cláudia Müller
Fotografia e câmara: Philippe Guinet
Som directo: Pedro Rodrigues
Montagem: Valeria Valenzuela
Produção: Cláudia Müller e Valeria Valenzuela
Programação visual: Theo Dubeux
Argumento: baseado na performance Dança Contemporânea em Domicílio, de Cláudia Muller

 

E você... O que fez para salvar o mundo hoje?

Você acordou, escovou os dentes com a sua superpasta branqueadora, bebeu e comeu de uma forma light, e vai trabalhar com a sensação de dever cumprido. Paga impostos, e estes devem estar indo para o lugar certo. Sensação de tranquilidade sem gordura trans.

Quando começamos a pensar em Solução para todos os problemas do mundo estávamos cientes de que se tratava de uma incógnita para não ser resolvida, que seria como um grande vómito do que havíamos consumido sem precisar. Consumimos muito mais do que precisamos, e estamos longe de solucionarmos os nossos problemas básicos, pois estamos envolvidos demais com problemas periféricos à nossa real necessidade. Reflectimos sobre a violência no país sob a visão de algum jornalista, compramos opiniões fáceis para, enfim, sermos vulneráveis à oferta da sandália modelo verão.

Se este texto tivesse trilha sonora, ela seria cantada por Gal Costa: "Você diz a verdade e a verdade é seu dom de iludir". Se nós o transportamos a uma realidade paralela, nós temos o dom de iludir. Reflectimos o quanto é fácil vender verdades e o quão difícil é encontrar uma. (Será que ela existe?). Para salvar o mundo, você primeiro tem que salvar o seu. Criar sua ilusão. Descobrir a sua verdade.

Você é essencial para o equilíbrio do mundo, e não está lendo este release por acaso. Você foi chamado! Seu destino o enviou aqui porque você precisa experienciar isto. Mas o quê? Problemas precisam de soluções. E nós temos uma esperando por você! Venha e confira! Não perca a chance de garantir sua satisfação*.

*trocas, reclamações e sugestões pelo blog www.asolucaoestaaqui.blogspot.com
 

MEMORIAL DESCRITIVO

Aqui a composição do movimento do performer, vinda da influência das palavras no gesto e do estado perfomático na palavra, possibilita uma constante quebra da linha narrativa, ou linha de pensamento. Tal qual uma mudança brusca de um canal de televisão, onde o "controle remoto" do dançarino está buscando novas referências e formas de comunicação o tempo todo. O formato do slogan (causa e efeito) influencia os cortes de estados físicos, tal qual uma edição de vídeo. Numa acção que não necessariamente vá fluidamente prever uma acção seguinte. O título/merchandising "solução para todos os problemas do mundo", é uma forma de tradução de todos os slogans num único. E esta solução só é almejada porque somos imbuídos de um sentimento fatalista que o universo televisivo nos empurra, quando por ventura não "compramos" modas de pensamentos. Problemas precisam de soluções. E é necessário pagar por elas.

TRAJETÓRIA DO TRABALHO

O projecto, que foi aprovado para o Rumos Itaú Dança, é resultado das ideias fomentadas após a performance Quero Saber do Q. Estou Falando, apresentada em Março de 2005, uma intervenção no espaço do centro de Curitiba. A co-participação de um público não “iniciado” à linguagem contemporânea foi fundamental ao desenvolvimento de uma linguagem híbrida que circule pela periferia dos grandes laboratórios herméticos. A composição do movimento do performer, vinda da influência das palavras no gesto e do estado perfomático na palavra, possibilitam uma constante quebra da linha narrativa, ou linha de pensamento.

Como uma mudança brusca de um canal de televisão, o “controle remoto” do dançarino está buscando novas referências e formas de comunicação o tempo todo. O formato do slogan (causa e efeito), vai influenciar os cortes de estados físicos, tal qual uma edição de vídeo. Numa acção que não necessariamente prevê uma acção seguinte. O título/merchandising é a tradução de todos os slogans num único. Só queremos essa solução porque somos imbuídos de um sentimento fatalista que o universo televisivo nos empurra, quando por ventura não “compramos” modas de pensamentos. Problemas precisam de soluções, e é necessário pagar por elas. Por que então não apresentar as deficiências (problemas) do espetáculo, almejando uma solução coletiva?

Neto Machado e Stéphany Mattanó são graduados no curso de Artes Cênicas da Faculdade de Artes do Paraná. Em 2004, foram bolsistas da Casa Hoffmann- Centro de Estudos do Movimento, onde iniciaram uma pesquisa conjunta que se desenvolve até hoje. Fazem parte desta pesquisa os trabalhos: "Quero saber do Q. Estou falando!", "Metáforas (título provisório) " e "Solução Para Todos os Problemas do Mundo". Este último começou a ser criado no ano de 2005, passou por várias fases de pesquisa com mostras na Mostra de Teatro da Faculdade de Artes do Paraná, em Agosto de 2005, no evento Cabaré – no Teatro da Caixa em Curitiba, em Dezembro de 2005, e no Festival de Teatro de Curitiba no ano de 2006. No mesmo ano, o projecto foi contemplado com o financiamento do programa Rumos Itaú Cultural Dança 2006/2007 e apresentou a sua última fase em Março de 2007, integrando a Mostra Rumos Dança 2006/2007 no espaço Crisantempo, em São Paulo - SP. Neste mesmo ano, integrou a programação do Couve-Flor Convida e da Mostra de Dança da FAP, em Curitiba - PR, do 5o ENARTCI, em Ipatinga – MG, do 2o Múltipla Dança, em Florianópolis – SC, da Mostra Corumbá – Santuário Ecológico da Dança, em Corumbá – MS, e do Panorama de Dança, no Rio de Janeiro – RJ.

Neto Machado é artista independente da dança integrante do colectivo Couve-Flor Minicomunidade Artística Mundial, graduado em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do Paraná. Trabalhou dez anos com hip-hop e street dance, integrando a equipe brasileira de hip-hop, que competiu no campeonato mundial de hip-hop em Praga – República Tcheca, no ano de 2003. Foi bolsista da Casa Hoffmann – Centro de Estudos do Movimento, em Curitiba, no último semestre de 2004. Lá participou de workshops com Deborah Hay, Juan Domingues, Xavier Lê Roy, Thomas Lhemen, Simone Altherlone, Cássia Navas e Fabiana Britto. Como finalização da bolsa recebida pelo centro de estudos, iniciou uma pesquisa sobre corpo urbano com o trabalho “AGORA SE MOSTRA O QUE NÃO ESTÁ AQUI”. Com este, foi contemplado com o Prémio Caravana de Circulação Regional da FUNARTE, integrando o projecto “Mostra Tudo” (apresentado em Cascavel, Campo Mourão, Curitiba e Londrina - PR, Porto Alegre – RS e Belo Horizonte – MG), integrou o Festival de Dança de Araraquara 2005, o evento Fora do Eixo no SESC Ipiranga SP, a programação do SESC Ribeirão Preto 2005, o evento Corpo-Instalação no SESC Pompéia SP 2006 e foi contemplado com o edital “Artes na Cidade” da Prefeitura Municipal de Curitiba também em 2006. Dando continuidade à pesquisa, uniu-se à mais quatro artistas curitibanos e criou o projecto “Mobiliário Urbano”; no qual foca o corpo urbano unindo a linguagem do hip-hop ao pensamento contemporâneo, que foi Premiado com o “Prémio de Fomento à dança FUNARTE-PETROBRAS” ; apresentou-se no Museu Oscar Niemeyer e no Museu Paranaense em Curitiba e no Festival de Dança de Araraquara de 2006 - SP. Foi curador, juntamente com Cristiane Bouger e Gustavo Bitencourt, do Ciclo de Acções Performáticas - em Trânsito, Outubro e Novembro de 2005.  Conjuntamente com Couve-Flor, aprovou em 2006 o projecto “Tronco e Membros” no “Prémio de Dança Klauss Vianna”; circulou por Curitiba – PR, Porto Alegre e São Leopoldo – RS e Belo Horizonte - MG. Junto com Stéphany Mattanó, desenvolve a pesquisa intitulada “Solução para todos os problemas do mundo”, que foca o universo televisivo como dramaturgia e a construção de uma narrativa de edições e mudanças bruscas de estados corporais. Com esta pesquisa, faz parte do programa Rumos Dança Itaú Cultural 2006/2007.

Stéphany Mattanó é formada em Direcção em Artes Cénicas pela Faculdade de Artes do Paraná (2006). Trabalha como atriz e cantora desde 1998. Foi bolsista da Casa Hoffmann - Centro de Estudos do Movimento (2004) onde lá iniciou seu exercício de estudo e criação em Dança e Arte Contemporânea (2003). Durante sua residência, vivenciou processos artísticos de artistas como Xavier Le Roy, Thomas Lehmen, Deborah Ray, La Ribot, Juan Domingues, Sarah Michelson, Simone Augtherlony, entre outros. Desde então, une-se ao artista Neto Machado para desenvolvimento deste pensamento (2004). Como resultado, surgem os trabalhos: São dois atos: acender e apagar (2004), Quero saber do Q. Estou falando! (2005) e finalmente Solução para todos os problemas do mundo (2005/2006/2007). Eles experienciam e fortalecem relação com os mais diversos tipos de público, desde o transeunte do centro da cidade de Curitiba em Quero Saber do Q. Estou Falando ao espectador de teatro e morador da região metropolitana da cidade em Solução Para Todos os Problemas do Mundo, que em sua primeira fase, contou com a participação de outros artistas em seu processo criativo. Paralelamente à pesquisa desenvolvida na Casa Hoffmann, trabalhou com produção, edição e roteiros de vídeo. Participou com Cristiane Bouger, do 13º Panorama RioArte de Dança- RJ (2004) numa colectiva que reuniu cinco trabalhos dos bolsistas da Casa Hoffmann. Recebeu juntamente ao colectivo Couve-flor Minicomunidade Artística Mundial, o prémio Klauss Vianna de fomento à Dança (Funarte-Petrobras), pelo projecto Couve-flor tronco e membros. Mais recentemente, foi contemplada com a bolsa de desenvolvimento de obras coreográficas pelo Rumos Dança - Itaú Cultural, edição 2006/2007 com o projeto Solução Para Todos os Problemas do Mundo.

Cândida Monte é directora e coreógrafa. Graduanda em Artes Cénicas pela Faculdade de Artes do Paraná. Trabalhou durante 15 anos com jazz e street dance, incluindo cursos na Broadway Dance Center em Nova Iorque (1996). Foi directora e coreógrafa do Grupo Street Soul durante oito anos. Em sua pesquisa como criadora participou de cursos com Cristopher Marchand (França), Berty Tobias (Espanha), Peter Dietz (Dinamarca). Como intérprete-criadora desenvolve as pesquisas Mobiliário Urbano (Prémio Funarte Petrobrás de Fomento à Dança 2005) e Canções que viram corpo, contemplado com o Prémio Funarte de Dança Klauss Vianna – 2006. Directora do espectáculo Descoisas, pré-coisas e no máximo coisas aprovado recentemente pela Caravana Funarte Petrobras de Circulação Nacional Teatro 2007. Em 2005, une-se aos artistas Neto Machado e Stephany Mattanó para desenvolver as pesquisas do espectáculo Eu quero saber do Q. estou falando e Solução para todos os problemas do mundo.

 

[1.ª PARTE: VIDEODANÇA]
 
Apresentação de filmes de videodança vencedores do Rumos Dança Itaú Cultural – Videodança 2007.


FF >>

Diferença e contraste de ritmos que convivem em sintonia. Movimentação simples e constante percorrendo um longo caminho nos mais diversos ambientes urbanos. Duas pessoas seguem o fluxo contínuo e ininterrupto, criando um estranho diálogo com o tempo e o espaço.

FF>> propõe uma continuidade temporal e deslocamento espacial, consegue que espaços distantes possam ser próximos. Seguimos um casal que nos leva com ele em seu trajecto. Em um curto lapso de tempo parece que percorremos dias, meses. O casal não se olha, porém sabemos que estão juntos, levam-nos com eles. Percorrem diversos lugares, alguns ruidosos, perigosos, outros menos; fazem com que percorramos espaços tão diferentes com harmonia e fluência. Espaços urbanos que são conhecidos por todos, nós os habitamos, sabemos de sua sonoridade, porém, FF>> elimina essa sonoridade própria de tais espaços para dar passagem exclusiva à melodia do casal. A acção emudece o contexto, conseguindo que tudo seja fácil e contínuo. Esse percurso não tem começo nem fim, pode manter-se para sempre. FF>> é uma história de amor, nos incita a nos apaixonarmos.

O trabalho surgiu da pesquisa anterior das artistas sobre a continuidade temporal da coreografia mesmo em descontinuidade espacial. Agora, acrescenta-se a fluidez ao questionamento da necessidade da vinculação do tempo ao espaço, buscando assim um resultado que só é possível graças aos recursos da edição de vídeo. A relação entre os intérpretes em constante movimento se dá por meio de uma unidade rítmica que se mantém ao longo do caminho percorrido por eles. Adoptando uma estética urbana e contemporânea, o vídeo põe em tela o debate acerca da afinidade possível entre diferentes padrões de corporalidade, utilizando a clara distinção da construção corporal dos intérpretes.


SENSAÇÕES CONTRÁRIAS

É ambientado no Recôncavo Baiano região do passado colonialista, dentro de um ambiente provinciano-decadente, desenvolve-se a noção de borrão, em que os eventos coreográficos e imagéticos se dão por aparentes acidentes, falhas e descontinuidades, num limite entre realismo quotidiano e surrealismo.

Quando dois pontos seguem direcções diferentes ou opostas, geram uma tensão. Assim como acontece no tipo de movimento dos bailarinos, ocorre também na composição das imagens. A composição dos elementos em relação à câmara está desenhada de tal forma que gera desequilíbrio. As acções estão desenquadradas ou em segundo ou terceiro planos.

Dentro de um mesmo enquadramento, propõem constantemente ao espectador uma passagem da atenção de um ponto a outro pelas acções desenhadas em cada um deles.

Nas cenas aparecem objectos que, mais do que nos fornecer informação sobre o que acontece, nos desviam das leituras primárias.

Na segunda parte do vídeo, a câmara adquire um movimento constante e fluido, levando-nos por diversos cómodos, justo quando as coreografias dos bailarinos estão em seu ponto mais alto de deslocamento.

Tudo é instável, tudo é movimento, nada é previsível; quando parece que vai começar, termina, sem nos permitir encontrar o equilíbrio.

O projeto cruza discussões sobre corpo, poder e sexualidade tomando como base conceitos desenvolvidos por Michel Foucault, por meio de dois elementos norteadores: controle e confissão. O discurso se organiza no corpo e na imagem, numa tensão entre o que se revela e o que é cerceado. A ideia de enquadramento da linguagem audiovisual se confunde com a própria metáfora do tolhimento institucionalizado pelo controle social apresentado por esse pensador. O trabalho parte do conceito dos desejos inauditos ou represados, presente na poética da cineasta argentina Lucrecia Martel. A câmara se aproxima dos bailarinos num desejo quase físico de captar seus segredos e sai impotente, pois o segredo sempre persiste. A luz é que permite ver além, chegar mais perto, revelar o encoberto.


FORA DE CAMPO

A videodança parte da experiência de entregar dança contemporânea em locais onde ela não é esperada, procurando espaços despercebidos, brechas no quotidiano. Busca-se a reconstrução desse acontecimento por meio do olhar daqueles que o vivenciaram, mergulhando no que persiste em cada um após a passagem desse corpo em movimento. O resgate do ponto de vista do observador torna presente a obra que permanece fora de campo. Argumento baseado na performance "Dança contemporânea em Domicílio", de Cláudia Muller.

A dança se desloca fora do enquadramento, o jogo se inverte e visualizamos quem está sempre fora de campo, quem vê.

No entanto, a dança está presente, a reconstruímos mediante as sensações de quem a vê, por meio de seus comentários e da própria corporalidade ao presenciá-la. Não é necessário ver a bailarina para ver a dança. Fora de campo habita as margens das linguagens, porém esse vídeo não documenta uma dança, mas, sim, transforma o corpo em uma dança. Coloca-nos em comunhão com os outros espectadores, em que desfrutamos juntos de um bondoso ato de entrega.

O projecto apresenta a ideia de “entregar” dança contemporânea em locais onde ela não é esperada, buscando espaços despercebidos, brechas no quotidiano. A encomenda pressupõe um dançarino que realize o seu ofício, entregando um bem “não-utilitário”, uma mercadoria não usual, cujo consumo está na fruição do espectador. Uma performance nômade que ocupa um espaço-tempo e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e momento antes de ser impedida ou rotulada. Por irromper e desaparecer de forma inesperada, ela é invisível, não tem nome ou definição. Uma dança que se importa menos com movimentos concretos e mais com os espaços imaginários abertos no encontro com o espectador-consumidor. O desafio está na reconstrução do acontecimento através do olhar daqueles que o vivenciaram, valendo-se assim das suas recordações e de sua forma de interpretar, reconstruir a observação do outro, a ponto de se tornar desnecessário o acesso à obra em si, pela evidência de que já foi vista e transformada. Uma videodança sobre uma dança que não é filmada, permitindo introduzir o conceito de fora de campo, que, na linguagem cinematográfica, define a acção que tem lugar fora do campo visual da câmera, presente e definível por ser parte do imaginário possível.

 

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