sáb 11 dez 22H00

TEATRO | 5€ | 3,5€ C/DESC. HABITUAIS

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BELA ADORMECIDA

COMPANHIA MAIOR | ENCENAÇÃO TIAGO RODRIGUES
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Texto e encenação: Tiago Rodrigues
Assistência de encenação: Cláudia Gaiolas
Intérpretes: António Pedrosa de Oliveira, Carlos Nery, Cristina GonçalvesEduardo Sérgio, Gabriela Cerqueira, Helena Marchand, Isabel Millet, Isabel Simões, Iva Delgado, Kimberley Ribeiro, Manuela de Sousa Rama, Maria Celeste de Melo Ribeiro, Maria Júlia Guerra, Michel e Vítor Lopes
Desenho de luz e Cenário: Thomas Walgrave
Produção executiva: Magda Bizarro e Mariana Sampaio
Fotografia: Cláudia Varejão

Uma produção Mundo Perfeito e Companhia Maior em co-produção com o CCB.

Bela Adormecida é o primeiro espectáculo e também o gesto fundador de uma nova companhia, feita de artistas maiores de 60 anos, vindos de diversos quadrantes da criação artística.

Bela Adormecida é uma história sobre a passagem do tempo, o renascimento e as segundas oportunidades. É possível acordar num tempo que não é o seu e torná-lo seu?, pergunta-nos esta ficção. Será sequer possível que o presente seja pertença de alguém? E que lugar reserva o mundo para aqueles por quem passou um século de sono, enfeitiçados, e que agora acordam no futuro? Nesta Bela Adormecida talvez não haja feitiço e não tenham permanecido jovens aqueles por quem o tempo passou. Talvez tenham estado acordados todo o tempo e apenas sintam que renasceram, pelos simples exercício de evocar a memória.

Bela Adormecida é uma versão contemporânea de um clássico, uma ficção universal para reflectir sobre a condição dos artistas que estão em palco e sobre a condição humana de uma forma mais geral.

A dança, o teatro e a música misturam-se, embora aqui sejam o instrumento para revelar as histórias e a experiência dos intérpretes. Este espectáculo será feito das suas vozes. Vozes talvez mais roucas do que é habitual. Vozes certamente mais sábias. Acima de tudo, vozes capazes de arriscar, porque são vozes do presente.

Todos os anos, com um elenco variável, a Companhia Maior convidará um criador diferente para dirigir uma nova peça. Com o estímulo do Centro Cultural de Belém, do qual será uma companhia em residência, a Companhia Maior convidou Tiago Rodrigues para escrever e dirigir a sua primeira criação.

A Companhia Maior assume-se como um projecto artístico contemporâneo, onde a experiência se funde com a experimentação, na convicção de que um artista não pode dizer “no meu tempo”, porque um artista – independentemente da sua idade — é sempre “de agora”. Não se trata de resgatar artistas cujo tempo já passou. Trata-se de resgatar a criação performativa contemporânea através da inclusão e da memória. Trata-se de uma convicção de que as artes do palco precisam deste espaço onde artistas mais velhos podem mostrar-se como artistas de hoje. Nesse sentido, a Companhia Maior deseja fazer a ponte entre instituições culturais, permitindo que diversos teatros sejam parceiros fixos, tanto no plano do acolhimento como da co-produção de criações da companhia, ajudando a pensar e concretizar o futuro deste projecto.

Sabemos também que, para lá do discurso artístico de cada espectáculo que será criado, há um sinal claro que, com este projecto, as artes estão a dar aos diversos sectores da sociedade portuguesa no que toca à dignificação e intervenção activa de toda uma faixa etária. Estamos convictos de que, não sendo outra coisa que um projecto de criação artística, a Companhia Maior pode ser um símbolo de uma mudança mais profunda e abrangente na sociedade.

Integrando a Companhia Maior existirá um Conselho Consultivo, cuja função será a de assegurar uma discussão contínua sobre o funcionamento da companhia, a sua missão artística e o seu impacto, que transborda claramente as fronteiras estritas da criação artística. Este Conselho Consultivo é presidido por Daniel Sampaio e conta com Marçal Grilo, António Mega Ferreira, Maria José Fazenda e Jacinto Lucas Pires, um grupo abrangente de personalidades da sociedade civil portuguesa que é também garante de comunicação dum discurso sólido acerca deste projecto junto do público, comunicação social e instituições.

A primeira criação da Companhia Maior tem uma fase prévia de trabalho num workshop que se irá realizar no Centro Cultural de Belém. Durante dez dias, entre 4 e 14 de Março de 2010, o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues dirige um workshop destinado a intérpretes maiores de 60 anos. As memórias e experiências dos participantes serão o ponto de partida para o desenvolvimento de uma proposta artística contemporânea que gira em torno de temas como os sonhos de infância, a adolescência, o enamoramento, a descoberta da sexualidade e a entrada na idade adulta. O workshop, intitulado “o nosso tempo é amanhã” culminará com a apresentação do trabalho realizado com os participantes, mas tem o objectivo final de servir como fonte de material para o espectáculo Bela Adormecida. O workshop tem a missão de, simultaneamente, gerar material para a criação e seleccionar os intérpretes que integrarão o elenco do espectáculo e da Companhia Maior.

Entre Abril e Agosto, a escrita e concepção do espectáculo acontecerá paralelamente à pré-produção, concepção de luzes, cenário e figurinos. Esta fase do trabalho, segundo a proposta artística de Tiago Rodrigues, assenta essencialmente na tradução criativa do material gerado pelos próprios intérpretes, transformando as suas experiências pessoais e profissionais em material com o qual pode hoje ser narrado o clássico.

Durante Setembro e Outubro, o processo de ensaios da peça será o momento fulcral em que o trabalho criativo realizado sobre os testemunhos e experiências dos intérpretes lhes é devolvido e transformado em matéria sobre a qual terão que interligar as diversas disciplinas (música, dança, teatro).

“O envelhecimento das populações é um dos grandes problemas das sociedades contemporâneas. O aumento da esperança de vida, a diminuição das taxas de natalidade e a migração de muitos jovens para outros países, são alguns dos factores que contribuem para a maior percentagem de idosos nas nossas comunidades.
Cada vez se torna mais necessário que as sociedades actuais se preocupem com a qualidade de vida das pessoas mais velhas. Todos os estudos indicam que se mantivermos activas as pessoas em idade de reforma, estaremos a contribuir para o seu bem-estar, ao mesmo tempo que aproveitaremos muitas das suas potencialidades. E, ao contrário do que por vezes é afirmado, a retirada dos mais velhos do mercado de trabalho não tem contribuído para a criação de mais empregos para os mais jovens.
No campo artístico, o êxito é com frequência associado à juventude, sendo esquecido o contributo que pode ser dado por artistas mais velhos de diversos sectores que se encontram em boas condições de saúde física e mental e que, através da sua experiência, podem contribuir para espectáculos de qualidade.
A Companhia Maior pretende ser um local de criatividade permanente para os artistas mais velhos e contribuir para um espírito de solidariedade entre as gerações.”

Daniel Sampaio
Professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde
Mental da Faculdade de Medicina de Lisboa
Presidente do Conselho Consultivo
da Companhia Maior

“Não é só porque nos aproximamos da idade maior que nos chega esta vontade de transformar experiências longas e ricas de vida em novas formas de expressão artística. Não é só – mas também. A ideia de que as sociedades em que vivemos estão a adaptar-se a uma nova estrutura etária implica uma atenção redobrada a esta faixa crescente da população, cujas vivências têm que ser mantidas (mais do que integradas) na vida activa e criadora. Em 2050, nos países industrializados, o número de idosos obrigará a que se encontre uma nova denominação para abranger estas camadas às quais deixou de aplicar-se o verso célebre de Dante: “O meio do caminho da nossa vida” já não serão os 35 anos, mas, mais que previsivelmente, os 45 – porque a expectativa de vida terá crescido até aos 90 anos de idade.
É da nossa vida, assim vista em perspectiva, que quer falar a Companhia Maior. Composta por artistas de idade superior a 60 anos, ela visa associar, desde o início, elementos mais jovens, de forma a assegurar uma harmoniosa convivência entre gerações, propondo-lhes a releitura de alguns dos lugares comuns da nossa cultura. E o seu programa não conhece limites, a não ser os que a imaginação e a vontade dos seus elementos queiram estabelecer.

Uma companhia de velhos? Ora, velhos são os trapos!
E mesmo esses…”

António Mega Ferreira

Presidente da Fundação Centro Cultural de Belém
Membro do Conselho Consultivo
da Companhia Maior

“A alma do projecto desta companhia, cuja ideia data de 2007, é o aproveitamento da experiência acumulada de artistas provenientes das diversas vertentes das artes performativas. Trata-se de valorizar a maturidade, os saberes forjados e aperfeiçoados ao longo do tempo e o intenso desejo de comunicar desta fase da vida, em que a reflexão e a ponderação já tiveram mais espaço para vaguear, mais tempo para duvidar, equacionar, concluir...
O tempo, a memória e a experiência são elementos-chave neste projecto de artistas que, em período de balanços e avaliações, se encontram também na fase mais propícia ao estabelecimento de diálogos e entendimentos: entre diversas maneiras de fazer, entre diferentes ofícios, mas também entre tempos e gerações diferentes. São artistas intervenientes a quem a vida não roubou a insatisfação e a curiosidade e, por outro lado, cuja idade já nada tem a ver com oportunismos ou efeitos fáceis.
A reacção do Centro Cultural de Belém a esta proposta foi imediata e de grande entusiasmo, bem como a de diversos agentes culturais que foram sendo contactados. À medida que fomos auscultando estas opiniões, foi crescendo em nós alguma ansiedade perante as expectativas do projecto. Conhecíamos bem, não só as responsabilidades artísticas, como as sociais e éticas que nele estavam implícitas, mas o carácter inédito desta iniciativa exigia de nós o esforço e, mais do que isso, o engenho de a transformar numa experiência tão exemplar quanto possível.
Foram dois anos de maturação e de trabalho de campo, onde as práticas de uma Company of Elders, em Inglaterra, de um Nederlands Dance Theater 2, na Holanda e a do The Bealtaine Festival, na Irlanda serviram como bons pontos de partida. A adaptação a uma realidade artística e social portuguesa protagonizou a fase seguinte. Os pareceres de amigos e profissionais foram de grande importância, sobretudo os de Tiago Rodrigues que esteve presente quase desde o início e cujo envolvimento foi fundamental.
Pensamos neste projecto como extravasando qualquer personalidade ou instituição. É no CCB que ele nasce, e é também a casa que o pode acolher, mas julgamos que só será MAIOR se verdadeiramente nos pertencer a todos. A presença de um conselho consultivo, tão habitual nas formações anglo-saxónicas e constituído por personalidades da sociedade civil, é uma das respostas a esta intenção.
Empenharmo-nos nesta causa de dar voz à criatividade de uma idade maior não é só um dever. É sobretudo uma janela aberta para um potencial artístico que, numa era onde se preza a jovialidade da imagem e da atitude, pode ser de uma frescura arrebatadora, porque é pleno de VIDA na verdadeira acepção da palavra.”

Luísa Taveira
Adjunta para a programação do Centro Cultural de Belém
Direcção da Companhia Maior

“O espectáculo como contemporaneidade pela via da memória

Bela Adormecida é o espectáculo e também o gesto fundador de uma nova companhia feita de artistas com mais de 60 anos, vindos de diversos quadrantes da criação artística.
Variação contemporânea sobre o clássico do ballet onde se fundem a criação musical de Tchaikovsky e a coreografia de Marius Petipa, já eles próprios beneficiários de uma longa tradição literária ligada ao tema, destacando-se o conto “La belle au bois dormant”, de Charles Perrault, o espectáculo Bela Adomercida surge como a primeira criação de uma companhia com duas características que a tornam singular. Em primeiro lugar, o seu elenco integrado por intérpretes e criadores das áreas da dança, teatro e música. Em segundo lugar, é uma companhia de artistas com mais de 60 anos.
Um dos grandes desafios deste projecto, que apenas agora tem o seu início com a criação de Bela Adormecida, é o de propor uma outra criação artística contemporânea onde há lugar para a memória, a experiência. Trata-se de uma convicção de que as artes do palco precisam deste espaço onde artistas mais velhos podem mostrar-se como artistas de hoje e não apenas como exemplos da “tradição”.
Neste sentido, Bela Adormecida contém, enquanto fábula e enquanto obra canónica para as artes do palco durante o último século, diversos elementos nos remetem para esta reflexão acerca da passagem do tempo. Bela Adormecida é um terreno fértil para um espectáculo que pensa o próprio conceito que levou à criação desta companhia. É possível acordar num tempo que não é o seu e torná-lo seu?, pergunta-nos esta ficção. Será sequer possível que o presente seja pertença de alguém? E que lugar reserva o mundo para aqueles por quem passou um século de sono, enfeitiçados, e que agora acordam no futuro?
Na nossa Bela Adormecida talvez não haja feitiço e não tenham permanecido jovens aqueles por quem o tempo passou. Talvez tenham estado acordados todo o tempo e apenas sintam que renasceram, pelo simples exercício de evocar a memória no presente.
Bela Adormecida levanta também a questão da coabitação de diversas disciplinas artísticas, um dos pilares desta companhia. Se a intemporalidade deste clássico nos oferece espaço para a abordagem ao tema do tempo, tanto o físico como o histórico, então a fusão de diferentes artes oferece-nos o desafio técnico que é essencial para que este grupo de artistas encontre uma linguagem comum e contemporânea.
Que portas podem estes artistas abrir hoje, quando confrontados com as questões de como dançar, como tocar, como dizer a Bela Adormecida? Sobretudo artistas que, pela sua idade e percurso, testemunharam e tomaram parte da evolução das linguagens cénicas
modernas. Sobretudo artistas que terão já visto diversas versões desta obra.
Com este espectáculo, pretendo usar uma ficção universal para reflectir sobre a condição dos artistas que estão em palco e sobre a condição humana de uma forma mais geral. Mas pretendo também que Bela Adormecida seja o veículo para as vozes de hoje desses mesmos artistas. Vozes talvez mais roucas do que é habitual. Vozes certamente mais sábias. Mas vozes capazes de arriscar, porque são vozes do presente.”

Tiago Rodrigues
Dramaturgo e encenador

Tiago Rodrigues nasceu na Amadora, em 1977. Actor, dramaturgo, produtor e encenador. É também director artístico do Mundo Perfeito, estrutura criada em 2003, na qual produziu mais de quinze espectáculos que foram apresentados em cerca de dez países.
Dirige os ESTÚDIOS, encontro anual de criação entre artistas portugueses e estrangeiros em Lisboa, no Teatro Maria Matos.Desde 1998, trabalha regularmente como actor e criador com a companhia belga STAN, em espectáculos falados em francês e inglês, apresentados na Bélgica, Holanda, Noruega, Suécia, Alemanha, Áustria, Reino Unido, Portugal, França, Síria, Líbano, Egipto, Marrocos e Tunísia, entre outros. Em Portugal também trabalhou com a SubUrbe, os Artistas Unidos, entre outras companhias.
Actualmente, colabora como dramaturgo com o coreógrafo Rui Horta e os criadores Ana Borralho e João Galante.
É professor convidado de teatro na escola de dança contemporânea PARTS, em Bruxelas, dirigida pela coreógrafa Anne Teresa De Keersmaeker, da companhia Rosas. Em Portugal, também leccionou na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, no Balleteatro, na Universidade de Évora e na Escola Superior de Dança em Lisboa. Como dramaturgo, além de diversas peças em co-autoria, donde se destacam Duas Metades com Patrícia Portela e Yesterday’s Man, com Rabih Mroué e Tony Chakar, é o autor de A Mulher Que Parou e Coro dos Maus Alunos, ambas estreadas em 2009.
Em cinema, participou como actor em diversas curtas e longas-metragens, destacando-se Mal Nascida, de João Canijo. Também escreveu e realizou a curta-metragem Deixa-me uma luz.
Artista polivalente, o seu percurso também passa pelo jornalismo, guionismo e poesia. Foi coordenador criativo da produtora de televisão Mínima Ideia, onde dirigiu programas como Zapping ou Serviço Público, ambos na RTP 2. Foi também argumentista associado das Produções Fictícias, onde assinou a escrita de diversos projectos de ficção para televisão.
Foi cronista do extinto diário A Capital, da revista NS’ do Diário de Notícias e Jornal de Notícias e também do suplemento Actual, do semanário Expresso. Colaborou com diversas revistas literárias e artísticas.