CHOVEM AMORES NA RUA DO MATADOR

SÁB 19 ABR 21H30

TEATRO | 5€

ESPECTÁCULO SEGUIDO DE A COR DA LÍNGUA NO BAR CTE [ENTRADA LIVRE PARA ESPECTADORES DO TEATRO] 

FESTEATRO’08 | PASSE 2 FINS-DE-SEMANA 10€ | PASSE GERAL 12,5€

90 MIN. | M/12

TRIGO LIMPO TEATRO ACERT

 

www.acert.pt

Texto: José Eduardo Agualusa e Mia Couto

Actores: José Rosa e Sandra Santos

Encenação: Pompeu José

Cenografia: José Tavares e Marta Fernandes da Silva

Música: Cheny Mahuaie, Fran Perez, Lígia Zango, Matchume Zango e Tinoca Zimba

Figurinos: Ruy Malheiro

Desenho de luz: Luís Viegas

Técnicos: Cajó Viegas e Paulo Neto

Assistência: Gil Rodrigues

Bonecas: Luís Pacheco

Carpintaria: Carmosserra

Serralharia: Rui Ribeiro

Fotografias: Carlos Teles, Eduardo Araújo

 

 

Baltazar Fortuna regressa a Xigovia para matar… saudades.

Pretende reencontrar os seus ex-amores: Mariana Chubichuba, Judite Malimali e Ermelinda Feitinha.

Entretanto, num sonho, elas, as três, dizem-lhe:

“Nós não te precisamos matar, nós já te matámos dentro de nós. Há muito tempo que não vives nas nossas vidas…”

 

Em finais de 1992, o Trigo Limpo Teatro Acert adaptou alguns contos de Mia Couto e criou com eles o espectáculo à roda da noite, estreado no Nordeste do Brasil em 1993.

Foi o início de uma relação muito especial com este escritor e com Moçambique.
A amizade estendeu-se entre os continentes e envolve hoje um grande número de pessoas.

É desta teia de relações que surge um texto inédito a quatro mãos: Chovem Amores na Rua do Matador de José Eduardo Agualusa e Mia Couto.

Como eles próprios explicam mais do que trabalho a feitura deste texto foi puro prazer.

 

E é com esta matéria feita de palavras, com este pretexto, que o Trigo Limpo Teatro Acert constrói a sua 75ª produção. Trabalhando na busca incessante desse prazer que continua a ser, para todos nós, fazer teatro.


E se já no princípio dos princípios, na génese, o princípio era o verbo, a feitura deste chovem amores…
parte dessa atitude quase mágica de começar a proferir as palavras para que as coisas aconteçam. E da filigrana das letras nasce demorada e gostosamente um mundo pequenino onde vivem as nossas personagens.



“…os sonhos são mapas que nos ajudam a orientar na vida. Aqueles que não sabem ler os sonhos, esses, sim, estão perdidos...”

Ermelinda Feitinha, a mãe

 

 
Texto do Autor

Partilhar amores


Primeira confissão: sou, desde há muito, amigo de José Eduardo Agualusa. Ele, para mim, é o Zé. E havendo tanto Zé no mundo ele é o único a receber a este honorífico título de “Zé”. Tudo o que escrever, a seguir, deve ser lido à luz de alguma suspeita. Ambos somos escritores que partilham uma mesma atitude perante a vida. Ambos mantemos uma mesma relação de prazer com a escrita. Para nós a escrita é fonte de encantamento, um brinquedo para a fabricação de outros que somos nós. Ambos lutamos para despir a literatura das suas vestes solenes e do seu tom sério e cinzento. Escrevemos para reconquistar a ingenuidade da infância, para surpreender a palavra no seu estado de infância.

 
Fui tudo isso que fizemos com este texto a duas mãos. Mais do que produzido a duas mãos, foi feito a duas almas. Combinámos, logo de início: eu farei de homem, tu farás de mulher. E fomos, sem falar, acertando que a peça falaria de amores e mortes (não são estes os únicos motivos da literatura?). Fomos trocando cenas e entrecruzando personagens e, durante todo esse processo, acabamos contrariando a ideia da escrita como um acto solitário e ensimesmado. Ao cabo de uns dias eu e o Zé estávamos rodeados pelos nossos personagens, pelos amigos de Tondela, o Zé Rui e o Pompeu, pelas vozes dos actores e a discreta sugestão de todos os que irão fazer do nosso texto uma peça de teatro. Num virtual palco, montado no teatro etéreo da Internet, esta peça de teatro já foi há muito estreada.


A minha lista de dívidas para com a ACERT-Trigo fica agora acrescida deste prazer imenso que foi partilhar com um amigo a criação de personagens que há muito nos pediam para ter rosto e voz. Cada vez que assim escrevemos acrescentamos vidas à nossa vida.



Mia Couto


Conheci o trabalho da ACERT na sequência de um convite para participar como escritor numa das edições do Festival d’ Agosto, em Maputo. Senti-me imediatamente em família. Fiquei espantado e comovido com a forma como o grupo conseguiu – vem conseguindo – estabelecer pontes entre África e Portugal, sem paternalismo, sem complexos, guiados apenas pela certeza de que a humanidade é a mesma em toda a parte, e de que é possível, através do teatro, abrir portas de diálogo e contribuir para o desenvolvimento global de um país.

Assim, quando o Mia me ligou, desde Maputo, com uma proposta do Zé Rui para que o ajudasse a escrever uma peça disse logo que sim. Creio que fui a primeira pessoa a publicar em Portugal uma recensão sobre o primeiro livro de contos do Mia Couto, “Vozes anoitecidas” (1986) – nas páginas do Expresso. Recordo-me muito bem do assombro que, na época, aquele livro me provocou. Conheci-o, pouco tempo depois, em casa de uma amiga comum e ficámos amigos.


Depois daquela primeira chamada reencontrei o Mia em Parati, naquele que é o maior festival de literatura dos países de língua portuguesa, e tivemos oportunidade de conversar um pouco mais longamente sobre a peça. O Mia já tinha uma ideia – a história de um homem que regressa à aldeia natal disposto a assassinar as mulheres da sua vida; não foi difícil concluir que o mais fácil seria ele ocupar-se do homem e eu das mulheres. Creio que as minhas melhores personagens – as mais convincentes – são femininas. Suponho que tenho vocação para mulher. Uma leitora disse-me certa ocasião, durante um breve encontro na feira do livro de Lisboa, que eu merecia ser mulher. Acho que foi o maior elogio que recebi até hoje. Assim, fiquei com as mulheres.


A escrita foi muito fácil. O tom estava dado (pelo Mia) e limitei-me a ser aquelas mulheres, seguindo um registro não muito dissonante do do personagem masculino – mas contrariando a sua versão.


Trabalhar com o Mia foi como conversar com ele, muitíssimo divertido e gratificante. Nem sei se a isto se pode chamar trabalho. Não por certo segundo a acepção original da palavra (que significava torturar alguém com um tripalium, um instrumento com três pés).


Eu chamo-lhe amizade.



José Eduardo Agualusa

Interiores

O projecto “interiores” visa essencialmente contribuir para o desenvolvimento da dramaturgia em língua portuguesa e, ao mesmo tempo, levar à descoberta de personagens que ajudem a reflectir sobre os distintos sinais da “portugalidade” contemporânea.


Interiores dá continuidade a uma prática comum na actividade do Trigo Limpo teatro Acert. Depois da criação de mais de duas dezenas de novos textos dramáticos baseados na adaptação livre de textos de variados autores, a Companhia prolonga uma rica experiência iniciada com Jaime Rocha – “Transviriato”.


O Trigo Limpo teatro ACERT convida vários autores, Hélia Correia, Jaime Rocha, José Eduardo Agualusa, Mia Couto e Eduarda Dionísio, para a criação de monólogos teatrais que, posteriormente, poderão combinar-se numa dramaturgia única, favorecendo o aparecimento de novos textos dramáticos de autores contemporâneos de língua portuguesa.
A experimentação, pelo contacto directo com os autores, de um trabalho acompanhado, amplia as relações dos criadores teatrais com escritores, de forma a poder prolongar esta prática a futuras etapas de trabalho, possibilitando ao público o contacto com autores de reconhecida importância num universo de escrita diferente.


Assim, este ciclo de produções procurará prolongar a experimentação e a pesquisa de linguagens cénicas que tenham o texto e o trabalho de actor como vectores preponderantes, permitindo que a criação cenográfica e a música de cena acompanhem as etapas de construção do texto, ao invés de o servirem na fase de conclusão.


O primeiro espectáculo deste projecto, ainda em cena, estreou em Dezembro de 2006 com o título “Duas histórias de solidão, duas histórias a sós” e foi criado a partir dos textos “Do avesso e do direito” de Eduarda Dionísio e de “O mal de Ortov” de Jaime Rocha.