Hugo Gamelas: “Este tipo de trabalho é para quem gosta muito do que faz”

segunda, 18 de maio, 2015

Produtor executivo, diretor técnico e sonoplasta, Hugo Gamelas conhece o CTE como poucos. Por aqui, já lhe passaram perto de 2 mil eventos pelas mãos e, mesmo com horários opostos aos da família e amigos, este técnico multifacetado dedica-se de corpo e alma ao universo do espetáculo.

Hugo Gamelas | 37 anos | Aveiro

Estás no Cine-Teatro de Estarreja há cerca de 10 anos. Como começou esta aventura?
Quando, em 2005, o Município de Estarreja decidiu criar uma equipa para colocar o CTE em funcionamento, a Dra. Rosa Maria Rodrigues contactou 3 pessoas que estavam ligadas a Estarreja: o João Barbosa, o José Machado e o João Teixeira. Faltava no entanto uma pessoa para a área do som. Apesar de não ser de Estarreja, era conhecido da Dra. Rosa Maria, por ter trabalhado em espetáculos realizados pelo município através de empresas de aluguer de equipamento, e também do João Teixeira com quem me tinha já cruzado no trabalho de estrada. Assim chegaram ao meu nome e dirigiram-me o convite que, prontamente, aceitei.

Conta-nos exatamente o que fazes. Quais as tuas funções?
As minha funções estão divididas em 3 partes distintas. Como Produtor Executivo faço planeamento de despesas, deslocações, estadias, alimentação e alugueres de equipamentos técnicos, função que desempenho com a supervisão do Luís Portugal e em articulação com a Irene Valente. Além disso, recebo as comitivas, certifico-me de que são corretamente encaminhadas e que tudo está conforme combinado em termos de hospitalidade de camarins, para que todos se sintam confortáveis e bem recebidos. Aqui, surgem necessidades tão díspares como o proverbial tubo de super cola para uma peça de cenário que se partiu, uma aspirina para o ator ou o gelo para o tornozelo da bailarina e o chá de perpétuas roxas para o cantor. Pedidos que tento satisfazer da melhor forma. Como Diretor Técnico preparo previamente a realização de qualquer espetáculo com a análise das suas necessidades nas várias vertentes da técnica – som, iluminação, vídeo, maquinaria de cena e direção de cena), planeamento dos horários da equipa técnica do CTE e dos turnos de montagens com equipas externas. Estas funções referem-se aos espetáculos realizados dentro e fora do CTE pois a equipa presta apoio a todos os eventos realizados no Município, desde feiras e mostras a conferências, etc. Tenho também a responsabilidade de agendar e realizar a manutenção do equipamento técnico, cénico e do mobiliário do CTE com a restante equipa técnica, assim como supervisionar a aquisição dos consumíveis técnicos que nos permitem desempenhar a nossa atividade. Sou também sonoplasta. A sonoplastia é a minha área de eleição da técnica. Nesta função, analiso os meios necessários em termos sonoros de qualquer espetáculo, fazendo posteriormente o planeamento, montagem e operação de todos os equipamentos técnicos inerentes ao som desse espetáculo. Surge por vezes a necessidade de gravar jingles, anúncios e spots, que são também da minha responsabilidade.

Com todas estas responsabilidades, quais são os teus principais instrumentos ou ferramentas de trabalho?
Computador, e-mail, as nossas famosas folhas de produção no Excel, o telemóvel, a mesa de mistura e muita paciência e boa disposição.

Como responsável de produção, recebes os artistas e todas as suas exigências. Alguma história curiosa que gostasses de partilhar?
Bem, como deves imaginar, com a quantidade de espetáculos que realizamos nos últimos 10 anos há imensas histórias curiosas, contudo recordo-me sempre da importância exagerada que se dá aos pormenores com uma história que me aconteceu em 2009, quando recebemos um famoso pianista Americano. À última hora surgiu a necessidade de ter umas garrafas de água Evian quase como condição sine qua non para o artista. Vi-me grego, pois não se encontra Evian em todas as lojas, mas consegui comprar as águas pedidas. A surpresa foi no final quando verifiquei que nenhuma garrafa tinha sequer sido aberta…

Estás presente na maioria dos espetáculos, com responsabilidades antes, durante e depois do espetáculo terminar. Um desafio profissional constante, mas também uma grande ginástica e esforço pessoal. Como reage a família à tua ausência, nomeadamente à noite e fins de semana?
Na realidade, já trabalho nesta área há mais de 15 anos, pelo que a minha família está habituada ao meu ritmo diferente. Normalmente, estamos a trabalhar quando as outras pessoas se estão a divertir e, embora passe ao lado da maior parte das pessoas (mesmo!), existe também todo o trabalho de preparação dos eventos, que ocupa uma grande parte da semana quando não a ocupa na totalidade. Este tipo de trabalho é definitivamente para quem gosta muito do que faz, pois tem períodos bem duros e longos e é complicado andar sempre ao contrário da família e dos amigos, mas é também extremamente compensador e creio que é um preço relativamente modesto a pagar por gostar do que se faz profissionalmente.

Mas porquê continuar no mundo do espetáculo?
Sempre estive ligado ao mundo do espetáculo desde novo, inicialmente como músico, depois como técnico. Adoro o meu trabalho e acho extremamente compensador contribuir para melhorar a vida das pessoas através da arte, neste caso com os meios técnicos necessários para realizar os eventos propostos. No CTE desempenho as minhas funções com sentido de missão e de serviço público, dando o mesmo nível de atenção, dedicação e profissionalismo a um espetáculo de um artista de renome internacional como à realização de um evento de uma coletividade local. Como colaborador do Município de Estarreja tento que o meu trabalho e o da equipa do CTE sirvam da melhor forma os munícipes e o público que são a nossa razão de existir profissionalmente.

Hugo Gamelas

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