[ENTREVISTA] Das bobinas de cinema para as drives

Entrevista a Hamilton Trindade

sexta, 26 de junho, 2015

Veio de São Tomé estudar para Portugal. Primeiro Produção Agrária, na Escola Profissional de Vagos, depois Novas Tecnologias da Comunicação, na Universidade de Aveiro. Entretanto encontrou-se com o Cine-Teatro de Estarreja, não sem antes passar pelo Festival AVANCA e pelo Cine-Clube de Avanca. Foi aí que lhe nasceu o gosto pelo cinema. Além de ter o seu próprio festival, o São Tomé FestFilm, Hamilton Trindade é projecionista e dá apoio técnico e de produção no CTE.

Hamilton Trindade | 32 anos | Aveiro

Chegaste ao CTE em outubro de 2011, na altura devido à saída do Fernando Soares. Já tinhas experiência como projecionista?

Entrei no CTE por intermédio do Cine-Clube de Avanca e também devido ao Festival AVANCA, onde dava apoio na produção e organização. Foi essa a minha primeira ligação ao cinema, mas ser projecionista, no início, foi uma verdadeira aventura. Tive que aprender como se fazia. Em 2011 não era o cinema digital, como temos agora, era película. Por isso, precisei de alguns dias para perceber como funcionava a montagem. Uma vez até montei um filme ao contrário! (risos) Mas rapidamente consegui adaptar-me.

O que significa exatamente a “montagem” de um filme?

Sempre que havia uma sessão de cinema, obrigava a vir cá no dia anterior montar o filme todo e assistir para ver se estava tudo bem. Os filmes vinham em películas, em caixas separadas, numa sequência definida. Era essa sequência que tínhamos de acompanhar para montar o filme. Por vezes, os filmes vinham na caixa de determinada sequência, mas a fita que estava lá dentro não correspondia. Ou seja, tínhamos que estar muito atentos a esta montagem. Houve uma ou outra situação que correu menos bem, mas sempre a tempo de ser corrigida.

Agora deixámos de ter bobinas…

Deixámos de ter bobinas e passamos a ter drives. Mas as coisas não mudaram assim tanto. Temos na mesma que testar dias antes e ver se está tudo bem. Com a bobina era necessário ver o filme do início até ao fim. Agora, com as drives, temos que verificar se o filme está ativo ou não, se a chave que foi emitida para o CTE é válida e se vai reproduzir o filme. Se essa verificação não for feita atempadamente, corre-se o risco de, no dia do filme, correr tudo mal.

Além de projecionista, apoias também na produção e no backstage. És tu que dás o "apito" para o espetáculo começar?

Mais ou menos. A minha função é dar todo o apoio na montagem e desmontagem dos espetáculos, bem como apoiar na produção, isto é, na preparação do catering, receção dos artistas, etc. Já perto do início do espetáculo faço a Direção de Cena, no backstage. Pelo intercomunicador, articulo com a Frente de Sala e com os Técnicos de Som e de Luz para saber se está tudo pronto para dar a entrada dos artistas no palco. Se por eles estiver tudo bem, transmito aos músicos, atores ou bailarinos que já podem dar início ao espetáculo.

Nessa relação com as companhias, já aconteceu alguma situação mais difícil de resolver?

Normalmente corre tudo bem. Poderá ter havido uma ou outra situação, mas agora não me ocorre nenhuma. São coisas muito pontuais que rapidamente se resolvem. No geral, tem corrido sempre tudo muito bem.

Desde a tua colaboração com o Cine-Clube de Avanca e no Festival AVANCA, ficou o bichinho do cinema. Agora tens o teu próprio festival em São Tomé que já vai para a segunda edição.

Agora tenho o meu próprio festival cuja 1ª edição foi em agosto de 2014. Demos o primeiro passo num tipo de atividade e evento que nunca tinha acontecido em São Tomé. Mesmo com poucos recursos, conseguimos plantar uma pequena árvore com garantias de crescimento e com muitos frutos para dar. O São Tomé FestFilm é um festival internacional de cinema e, acima de tudo, pretende despertar os jovens e a restante população para a cultura cinematográfica, levá-los a produzir alguma coisa e a mostrar ao mundo aquilo que fazem. Um dos pontos fortes do festival é fazer com que alguns dos filmes nacionais premiados tenham a oportunidade de serem exibidos em festivais fora do país, nomeadamente em Portugal e no AVANCA, que é nosso parceiro.

Hamilton Trindade

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