[ENTREVISTA] "Os pormenores mais importantes são os que envolvem a segurança e o conforto do público"

Entrevista a Lígia Rodrigues

quinta, 30 de julho, 2015

Ser Frente de Casa de um teatro é gerir detalhes. Se ninguém reparar é porque o trabalho está a ser bem feito. Nesta entrevista, Lígia Rodrigues, colaboradora do Cine-Teatro de Estarreja desde 2010, dá a conhecer o trabalho de acolhimento do público que visita a principal sala de espetáculos estarrejense. Em média, por ano, a Lígia e a equipa de Assistentes de Sala abrem portas a 28 mil espectadores.

Lígia Rodrigues | 36 anos | Aveiro

És a Frente de Casa do CTE. O que faz a Frente de Casa de um teatro?
Asseguro todo o processo de receção e acolhimento dos espectadores no CTE. Há sempre uma preparação do espaço antes de se poder receber o público. Depois disso, reúno com a Bilheteira e com a Produção para obter informações mais detalhadas sobre o evento. Coordeno a equipa de Assistentes de Sala e juntos asseguramos a abertura de portas ao público conforme planeado. Quando é possível abrir a sala, é dado um sinal sonoro, o famoso gongo. São dados dois gongos a dois minutos do fecho da sala e ao terceiro gongo fechamos as portas. A partir daqui entramos na fase seguinte, isto é, o início do evento e chegada de público atrasado.
Mesmo no final, depois de todo o público sair do edifício e de ter fechado a porta da frente, passo para a zona técnica e acompanho a saída dos artistas e da equipa que os acompanha. Quando todos saem, é feita nova vistoria ao espaço para confirmar que todas as janelas estão fechadas, todas as luzes desligadas e, principalmente, para ter a certeza que ninguém ficou para trás.

Como geres essa questão dos atrasos do público?
A entrada de público na sala depois do evento começar é quase sempre pacífica. Há eventos em que o público pode entrar sem restrições e outros em que tem de aguardar pelo momento ideal.

Acumulas mais alguma função no CTE?
Quando necessário também faço distribuição dos materiais de divulgação, como cartazes e flyers, no exterior.

Num evento ou espetáculo, e neste contacto direto com o público, há muitos pormenores a ter em conta? A que pormenores procuras estar mais atenta?
Há muitos pormenores como, por exemplo, ligar luzes, plasma e som ambiente, abrir o parque de estacionamento, colocar cinzeiros no exterior, verificar o ar condicionado, etc. Pequenos detalhes nos quais ninguém repara, mas se algum falhar nota-se logo. A meu ver, os pormenores mais importantes são os que envolvem a segurança e o conforto do público. É preciso garantir que os corredores de acesso estão livres - bengalas, carteiras, guarda-chuvas ou até o tripé de algum elemento da imprensa. Nada pode obstruir a passagem do público.

Conforme referiste, coordenas uma equipa de Assistentes de Sala. Que recomendações lhes dás?
Este grupo de Assistentes de Sala está connosco há vários meses. As recomendações já são poucas. Mesmo assim, antes de cada evento, reunimos sempre para falar sobre o que vai acontecer e sobre situações que possam surgir. São dadas informações sobre a duração do evento, se há intervalo, se há autógrafos, venda de material ou se vamos ter comunicação social presente. Falamos ainda sobre as regras de captação de imagem ou som, sobre possíveis entradas tardias e, dependendo do evento, se há entrega de lembranças ou discursos. Nesta reunião atribuo funções específicas a cada um (quem vai estar a controlar os acessos à sala, quem vai encaminhar o público ao lugar, etc.). Depois dessa reunião, estamos prontos para receber o público.

Por razões óbvias, um concerto é diferente de uma peça de teatro, uma conferência ou palestra é diferente de uma sessão de cinema. Mas, como Frente de Casa, que preocupações tens em cada tipo de evento?
Bem, as preocupações que possamos ter também dependem um pouco da produção do evento e do próprio público. Já houve concertos em que o artista autorizou não só o público a tirar fotografias como também pediu para que fossem publicadas no momento. Assim como já houve quem não autorizasse a captação de imagens. Nestes casos há um aviso antes do início do evento mas o primeiro “flash” acaba sempre por sair. Dentro dos eventos que mencionaste há várias subcategorias. Refiro-me a eventos livres, eventos sénior, eventos familiares, eventos escolares, entre outros. Os eventos familiares, Cinema Infantil ou eventos promovidos pelo LAC - Laboratório de Aprendizagem Criativa, por exemplo, trazem muitas crianças à sala. Neste tipo de evento é preciso ter em conta que as crianças não vão estar sempre sossegadas. Por outro lado, uma criança que esteja a chorar vai perturbar e deve sair da sala. Outro caso que merece toda a atenção é quando a criança quer correr no corredor e há pouca luz. Além de perturbar o público pode magoar-se, não esquecendo que se pode perder dos pais. É com esta segurança que temos de nos preocupar primeiro.

Já te viste confrontada com uma situação mais difícil de contornar? Como resolveste?
Tive situações complicadas sim. Há uma que me lembro bem e que se passou numa sessão de cinema. Nesta sessão não existia marcação de lugares, o balcão estava praticamente esgotado e havia poucos lugares seguidos. Encaminhámos uma senhora com duas crianças para esses lugares. Foi então que percebemos que estava um senhor a guardar lugares para amigos. Explicámos que não se podia guardar lugares, mas o senhor não aceitava o argumento e insistia. Nesta troca de argumentos os amigos chegaram e sentaram-se imediatamente. Portanto naquele momento imediato esgotaram os lugares juntos. Convidámos a senhora a sentar na plateia e assim aconteceu.

Em compensação, consegues ver os espetáculos e concertos de grandes nomes nacionais e internacionais! Ou não é bem assim?
Não é de todo assim! Já não me lembro de ver uma peça de teatro ou de assistir a um concerto! Posso ver pequenos momentos quando entro na sala, mas nunca um evento na sua totalidade. Maioritariamente estou fora da sala para resolver pequenas situações que possam surgir, como pessoas que chegam atrasadas ou saídas de público da sala. Durante o evento preparamos também o seu final - mesa para autógrafos, troca de cartazes, entrega de material de divulgação. Só entro na sala para verificar que está tudo bem ou, no caso de ser chamada, se algo correr mal.

Lígia Rodrigues

Lígia Rodrigues